Meu maior erro foi amar. Amar alguém que não me amou, amar alguém que sequer olhou para mim com amor, amar alguém que sempre me desprezou e me atirou na lama, meu erro foi ter casado com essa pessoa e continuar vivendo com ela, a cada dia o meu amor por ele se torna mais fraco, porque a cada dia sinto cada vez mais que ele nunca me amou e nunca vai me amar, nem que eu implore ele nem vai chegar a pensar nisso, e eu vou levando, casada com uma pessoa que não me ama, só me quer por causa de um corpo bonito, por algo engraçado ou até mesmo por sexo, por zagacidade, por egoísmo. Meu erro é esse e não há remediação.
— Hey, Johanna, eu voltei.
— Olá, querido, como foi a reunião?
Apesar de tudo, apesar de saber que ele não me amava, eu era uma esposa atenciosa, eu era uma esposa atenciosa, eu era uma mulher que acreditava nele, que acreditava nos seus ideais, mesmo sabendo que não me amava.
— Foi bem, foi ótima, na verdade, vamos comemorar hoje à noite?
— Claro, claro, querido, depois podemos voltar e fazer umas coisinhas – faz de conta, um tremendo, absurdo e insano faz de conta.
Mas, pra ser sincera, não esperava dele nada além de alguns beijos sem paixão. Eu não esperava um dia tê-lo como meu amante, como alguém que realmente me amasse, não, eu não esperava mesmo, quem sabe um dia acreditei nisso, nesse surrealismo fracassado, acreditei em lembranças do futuro que a gente chegou a merecer. Mas agora estava tudo destruído e mortal, imóvel, as duas pessoas que estavam em rota de colisão pararam, suas vidas se distanciaram, um uma ficou absurdamente longe da outra, o amor não parecia passar por nós dois com um casal. Por mais dolorido que fosse eu tinha que admitir que ele era meu ponto fraco, quem sabe o mais fraco de todos, talvez ele fosse o que me tornava inútil e triste.
E nossas noites eram tristes, quando havia sexo nelas eram tristes, nojentas e realmente bestas. Dois, apenas nós dois em uma cama king de casal, com um quadro de Marylin Monroe na cabeceira, paredes pintadas de preto e branco e a estrutura de uma noite, porém apenas dois corpos ali, os pensamentos, os sentimentos e os prazeres, não, isso com certeza não se encaixava ali.
Por mais que doesse saber que ele saia com prostitutas eu apenas deixava acontecer, deixava passar, porque eu nem se quer me importava com a vida sexual dele, eu me casei com um homem a quem amava totalmente, mas que o tempo provou que não deveria, e agora estava pagando o preço.
5 anos depois
Uma mulher ouve som muito alto, realmente alto, o dono do hotel onde ela está hospedada bate na porta do seu quarto, ela atende apenas com uma lingerie rosa e um sutiã da mesma cor, quase transparentes. Fica ali, encostada no batente da porta, o dono do hotel fica de boca aberta, mas com toda educação pede que ela abaixe o volume de seu som, pois haviam hóspedes tentando dormir, ela baixa o volume mas retorna ao quarto com se houvesse levado um chute na cara e fecha a porta para o dono do hotel. Senta-se no chão, parecendo a mulher mais triste e abandonada que existe em todo o mundo, ela não conseguiu suportar a situação, fugiu de casa enquanto seu marido dormia e ficava hospeda em hotéis por todo o país parando de cidade em cidade, bebendo, fumando e se drogando, para ver se esquecia os dez anos de sua vida casada com um homem que sempre amou, mas pelo qual nunca foi amada, tentando esquecer que tudo não passou de um erro, um grande erro.
Exaltava-se, gritava impropérios, como a vida era cruel, como amava um homem que nunca a amou, e se xingava só, e se amava só, e se odiava só, e estava ficando louca, doente, enfim estava morrendo, na verdade estava se matando, lentamente, o fim estava próximo.
Era 16 de setembro de 1955, já tinha saído do outro hotel, e estava agora no Texas, num local perto de um deserto, foi comprar crack, heroína e cocaína, as três drogas que consumia e voltou para o hotel espalhou-as pelo e as consumiu. Bebeu Johnnie Walker 12 anos enquanto lia Rolling Stone. E fumou Marlboro sem filtro, sentou para, como fazia todas as noites, lamentar, gritar e ouvir música alta, só que desta vez foi demais para ela.
Outro dono de hotel vinha reclamar do som, bateu várias e várias vezes e como não obteve resposta arrombou a porta, encontrou um corpo frágil e triste, com marcas de seus exageros, apenas com as roupas de baixo, com uma garrafa de Whisky quebrada ao seu lado pela queda. Pegou-a e levou-a para o hospital mais próximo, levou, também, sua carteira com a qual puderam identificá-la e chamar seu marido.
Johanna acordou:
— George, é você? Que bom revê-lo, eu estava com saudades, mas, George, preciso contar algo antes de ir, porque eu estou morrendo e você sabe disso, espero que compreenda, por favor.
George me olhou como um pai olha para um filho que acaba de inventar algo e me disse em alto e bom som, só para ferir meu sentimento:
— Volte a dormir mulher, você está bêbada, não está em sã consciência para dizer isso.
— Eu vou te dizer que te amo com todo meu coração, dizer que sempre te amei e você me diz que eu estou bêbada e que deveria voltar a dormir? VAI A MERDA, George, quando você vai aprender a me amar de verdade, e parar de ser grosseiro comigo, hein?
Soltei o soro do hospital e todas aquelas máquinas que me prendiam ali e pulei da cama, saí correndo pelo hospital, procurando a saída, pra poder fugir dali, não queria nunca mais ver a cara de George. Os enfermeiros saíram correndo atrás de mim, eu estava perdida, corri, corri sem saber para onde, só queria fugir dali, então veio uma sensação de estar perdendo as forças, eu não queria, eu tinha que fugir, caí no chão frio de duro do hospital, minhas costas arfaram, eles me alcançaram, tudo fiou escuro de repente...
— Nunca mais fuja de mim, entendeu? Nunca mais, por favor – estas duas últimas palavras pareceram forçadas, principalmente vindo da boca de quem estavam vindo, vindas de George, principalmente porque George não era um home acostumado a ser um cavalheiro, George era rude, quase que todas as vezes que falava comigo, pediu com educação apenas pela minha crise de histerismo alguns momentos antes.
— Tentando ser educado, hein? George, o que eu queria realmente era que você me amasse de verdade, me respeitasse o tempo todo, não só nesse hospital imundo, não só nesse maldito faz de conta. É por isso que fugi, porque não agüentava mais esse faz de conta, não agüentava mais você, George, e agora eu sei, agora eu sinto apenas ódio de você, todo meu amor se esvaiu, se foi. Tudo acaba aqui George, tudo acaba depois de 10 anos de um casamento fajuto e nojento, cheio de malícia, e sem pudor algum. Adeus George, adeus a você e ao meu amor.
— Não, por favor, não diga isso Johanna, você sabe que eu te amei e que sempre vou te amar, por favor, Johanna, eu ainda te quero, eu ainda te desejo...
— Mas não pode me provar isso, nada pode me provar isso, porque eu sei que jamais me amou, sei que tudo isso não passa de uma mentira inventada por você sua grande imaginação, você acha que eu não sei que sai com prostitutas, que me trai, pois é eu sei, e por todos esse 10 anos eu fiquei quieta, mas agora chega George, acabou.
— Johanna, não vou dizer que está errada, mas eu te amo, agora eu te amo e se você não acredita não sou eu quem vai mudar isso, até mais ver, eu te amo.
George deixou uma rosa sobre mim e saiu do quarto, eu desabei no choro sem saber quando ia parar, pois sabia que uma sessão de choro não mudava nada, mas deixava a aceitação delas bem melhor, eu não queria lembrar-me de que nunca mais veria o homem que mais amei na minha vida toda, eu não queria nem saber.